terça-feira, 9 de agosto de 2016

A casa da porta branca (4)

Se você ainda não leu o capítulo 3, segue o link:
http://dangerous3.blogspot.com.br/2016/08/a-casa-da-porta-branca-3.html


Há 5 anos , Clarisse descobriu que tinha câncer. Ela teve aquele sentimento de soco no estômago, estava tudo perdido, a vida dela havia acabado. Naquele mesmo mês, pegou seu marido transando com sua melhor amiga na cama deles. No meio da discussão que tiveram, ele a revelou que estava com ela pelo dinheiro, pois ela era uma pessoa que só ligava para o emprego. Quando o ex-marido de Clarisse descobriu que ela tinha câncer, disse que não a ajudaria e que aquilo era justiça divina. Eles se casaram sem acordo pré-nupcial e ele levaria metade do que construíram. Ela deu quase todo o dinheiro para o seu tratamento, mas não foi o suficiente e já havia perdido as esperanças quando um dia chegaram doações. Seu médico lhe disse que acionistas que a conheciam estavam doando e que o governo por si só já cobriria uma parte. Quando ela melhorou e voltou a ter sua “antiga” aparência, foi até seu irmão, ao qual ela nem se quer cogitara dizer o que passou, só queria realmente acertar as coisas com ele.

Capítulo 4

Frank e Clarisse passaram a madrugada tentando entender o que tinha acontecido, não era possível que em um espaço de menos de dois minutos tenham se passado dois dias. Eles não acharam resposta e sentiam-se eufóricos e apavorados, estavam no teto da casa com duas cervejas. O sol apresentava-se timidamente, deixando tudo com um leve tom alaranjado. Frank percebeu que por vezes um homem com uma jaqueta e um capuz preto andava pela rua sem nenhum motivo aparente, porém isso não era nenhum crime.
Clarisse comentou com o irmão que aquilo que acontecera na noite passada não sairia das suas mentes nunca e ainda sugeriu que ele trocasse de casa, mas Frank disse:
- Tem que haver uma explicação para o que aconteceu e não saio daqui enquanto não achar a resposta. Talvez essa Charlye seja realmente um fantasma, mas ela não parecia querer me fazer mal, estava apenas assustada. E se no fim, nós fomos tão fantasmas para a garota quanto ela foi para gente?
Clarisse soltou um terrível palavrão.
- Você só pode estar ficando doido! Será que pensa que isso é um filme? Que tipo de louco é você?
- Clarisse, você nunca me apoia em nada. Seja irmã uma vez na vida e fique aqui comigo, vamos descobrir juntos o que está acontecendo.
A irmã encarou os olhos esperançosos do irmão e disse:
- Eu te amo, não duvide disso. Mas eu estou fora. Pode esquecer e se quer dar uma de “caça fantasmas” vá em frente. Eu não vou mesmo tentar te impedir, mas eu? Estou indo embora agora mesmo.
Clarisse desceu a escada, Frank desceu 10 minutos depois. Ela estava encostada na porta, em lágrimas disse ao irmão:
- Eu entrei no quarto para pegar minhas coisas e vi uma caixa, dentro dela tinha uns documentos médicos. – ela chorou mais ainda e soluçava tentando falar. – Você que pagou o tratamento do meu câncer, tudo!! Porque você não me disse nada? Se não fosse essa doação, eu não estaria viva hoje. Tudo que gastei não foi suficiente. Seu idiota! Eu te amo! Pirralho mal criado! Você sabe de tudo então? Do motivo do término do meu casamento? Eu pedi para minha mãe não falar para você, eu me lembro de implorar a Deus uma chance de te ver de novo, mas não queria que fosse daquele jeito. Quando soube?
- Quando você foi internada há 5 anos. Uma amiga que temos em comum me contou que você estava desesperada e que ia muito ao hospital. Então contratei alguém para te seguir e descobrir o que estava acontecendo. No dia que deu entrada na internação, eu fui te ver, mas não consegui me aproximar, na verdade, não tive coragem. Foi aí que uma enfermeira comentou com outra no corredor “O tratamento dela é muito pesado, o marido levou toda a grana dela. Os remédios e todo o tratamento custam um absurdo e só pode ser feito fora do país”. Foi então que soube o que podia fazer, vendi minha empresa no Sul, não queria voltar a falar com você (assumo), mas não descansaria enquanto você não estivesse bem.
- Como convenceu nossos pais a não me contarem nada? – perguntou uma Clarisse aos prantos de emoção e raiva.
- Bem, é simples. Eles também não sabem. Nunca contei a eles. Me alfinetam sempre dizendo que tenho que te ligar, que talvez você quisesse me dizer algo, mas também foram fiéis a você e não me contaram do câncer.
Clarisse agora lembrava que na noite de reencontro entre os irmãos ela dissera “será que uma briga é suficiente para gente morrer sem se falar?” e o irmão pareceu achar que ela falava sério.
- Me disseram que haviam sido várias doações feitas pelo governo e antigos acionistas de onde eu trabalhei. Por 5 anos você investiu no meu tratamento e na minha recuperação?
- Sim. E pelo o que vejo, você está ótima.
A cabeça de Clarisse estava quase para estourar, ela sabia bem que o irmão não queria voltar a falar com ela, mas não sabia que ele a amava. O que será de tão ruim que ela fez a ele que não lembravam ao certo? Seja lá o que fosse, ela decidiu que nunca mais deixaria seu irmão na mão e se ele queria virar um investigador da casa dos horrores, ela estaria ao lado dele.
- Eu vou ficar, Frank. Vamos descobrir junto o que está acontecendo aqui. Eu tenho medo de morrer (assumo), - fez referência a observação do irmão. – mas por você valeria até a pena morrer.
Frank riu vendo a irmã ainda chorando, e disse.
- Deixa de ser boba. Você não vai morrer comigo por perto.


Os dois fecharam a porta atrás de si, deram uns 6 passos à frente e ouviram alguém tocar a campainha. O detalhe aqui é que eles não tinham campainha. Os dois se entreolharam, só podiam pensar que aquilo também tinha relação com as coisas estranhas que aconteceram até então. E se fosse a Charlye? Tudo durou segundos, mas pareceu passar devagar. Frank virou-se e foi caminhando até a porta, passou por um espelho que tinha ali no corredor. Na rua, algum carro começou a tocar “The Sound of Silence” e ele acabou cantando mentalmente “Hello darkness, my old friend”. A casa estava banhada por uma claridade sonolenta. Quando o rapaz abriu a porta, jurava que veria Charlye na sua frente, mas quem estava lá era o homem de capuz que rondava pela rua a madrugada inteira.


O estranho sacou a arma, encostou –a na barriga de Frank e atirou. Frank sentiu algo extremamente quente atravessar sua barriga, sentiu um leve gosto de ferrugem na boca e tossiu, cuspindo sangue na direção do homem que agora já estava se preparando para correr. Frank ainda tentou segurar o homem, mas sentiu um choque intenso ao tentar se mexer, levou as mãos até a barriga, cuspiu e tossiu mais sangue. A música ainda tocava na rua, e Frank pensava no quanto ela era boa “i have come to talk with you again”. Viu tudo rodando e se sentiu enjoado, teve a impressão até de ter molhado as calças, já não lembrava-se do tiro, apenas do rosto de sua irmã, ouvia a voz dela cada vez mais distante. O sol esquentava seu rosto ali no chão. De repente, tudo escureceu. 

Criado e escrito por: Thanos
Revisado e editado por: Natália Dias



4 comentários:

  1. Caralho, voce me deixa de boca aberta , ficou muito maravilhoso , Parabéns.

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  2. OMFG! Suspense no final de novo? Vou chorar desse jeito :/

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  3. os ganchos aos fins dos capítulos são muito bem aplicados, estou curtindo bastante.

    Hrothgar

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